Claro que sim, respondem os otimistas em coro.
Se não fosse, como explicar praias tão lindas, florestas tão exuberantes, terra tão fértil, povo tão amoroso, tudo em um só país?
Deve ser pra compensar a pobreza, a violência e a má distribuição de renda - rebatem os pessimistas.
E o clima então? - elogiam os otimistas. Em vez de frio, neve, furacões, terremotos e maremotos, temos sol o ano inteiro.
É isso: deve ser o sol que deixa o brasileiro tão preguiçoso - ironizam os pessimistas.
Os brasileiros são incríveis! - defendem os otimistas. É só olhar pra nossa arte, nossa literatura... Por exemplo, o movimento modernista...
Ei, peraí, o movimento modernista já morreu! - contestam os pessimistas.
Mas as idéias que ele deixou, a bossa-nova, o futebol-arte, a nossa medicina, a arquitetura estão vivinhos da silva. Aliás, Deus é tão brasileiro que o sobrenome dele deveria ser Silva: Deus da Silva.
Tá brincando? - reagem os pessimistas, quase perdendo a paciência. A julgar pela cotação do dólar e do euro, Ele está mais pra God Graham, Lord O'Brian, Dieu de la Fontaine...
E a beleza do Rio, como explicar? - lembram entusiasmados os otimistas. Para qualquer lado que se olhe, Deus está presente.
Para qualquer lado que se olhe tem favela, isso sim - contrapõem-se os pessimistas.
Mas é do morro que a Mangueira e tantas outras escolas descem para deslumbrar o mundo no Carnaval... Você já viu as escolas na avenida? Só pode ter o dedo de Deus ali - concluem emocionados os otimistas.
Tudo bem, então os corruptos, os traficantes, o crime organizado, são obra de quem? Do Diabo? - perguntam os pessimistas, chutando o pau da barraca.
Otimistas (ignorando a provocação): Chapada Diamantina, Lençóis Maranhenses, Fernando de Noronha... é tudo coisa de Deus.
Por esse critério, São Miguel Paulista, Capão Redondo, Cidade de Deus... ah, olha Deus aí! - gritam os pessimistas.
Nada comparado à beleza das nossas mulheres, à alegria do nosso povo, às delícias da culinária brasileira - derretem-se os otimistas.
E antes que os pessimistas, irritados, digam que no Brasil tudo termina em pizza, vamos encerrar o assunto citando um político que, ao voltar de uma visita em Florianópolis e indagado sobre a cidade, respondeu ao repórter: "a parte que cabe a Deus está perfeita".
Leo Burnett
