sexta-feira, 15 de maio de 2009

Tenho andado muito pela net e nessas andanças descubro muita coisa legal, leio muita coisa inteligente, profunda, útil. Mas o que mais me encanta mesmo são as delicadezas. É muita coisa linda e sensível que eu perco a vontade de escrever diante de tanta beleza.
Não tenho o dom da escrita, mas o da leitura é apuradíssimo.
Mais um que encontrei hoje:

"Poeira

Era de cagar. Todo dia tinha ele que fingir não saber as intenções escondidas embaixo daquela plataforma de plástico pintado, que imitava o couro. Começava daí, da verdadeira altura que também era uma mentira. E ele, com o saco de Jó que Deus lhe tinha dado, ia levando.
Que palhaçada essa mulher tinha feito? Até desconfiavam de coisa esquisita, macumba mesmo nas encruzilhadas, e tudo. Mas ele ia deixando sei não porque. Talvez de um certo modo precisava ser usado, ué, vai que tinha sido Calígula na encarnação de antes...
Ninguém se conformava porque era claro feito holofote na quadra, só que o medo, parecia, deixava o dedo do home longe do botão de desliga.
Só que eu, e a vizinhança também, fomos percebendo um olho meio de esguio, um bufar de canto de boca que ele vinha dando pra cada palavra atoa que ela soltava, e como eram muitas, o nego foi alargando, ficando igual urso saindo de ibernar.
Um dia foi a conta.
Cê pensa que ele fez estardalhaço? fez não. Levantou, sacudiu a poeira, e até hoje ela não deu a volta por cima."

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