De Rubem Alves.
"A ostra, para fazer uma pérola, precisa ter dentro de si um grão de areia que a faça sofrer. Sofrendo, a ostra diz para si mesma: 'Preciso envolver essa areia pontuda que me machuca com uma esfera lisa que lhe tire as pontos...' Outras felizes não fazem pérolas... Pessoas felizes não sentem a necessidade de criar. O ato criador, seja na ciência ou na arte, surge sempre de uma dor. Não é preciso que seja uma dor doída... Por vezes a dor aparece como aquela coceira que tem o nome de curiosidade. Este livro está cheio de areias pontudas que me machucaram. Para me livrar da dor, escrevi."
E escreveu lindamente.
Adoro o Rubem Alves, mas não concordo. Escrever como expressão de masoquismo é tanto a cara daqueles que acham que escritores tem que sentir tudo intensamente, pois de certo modo são pessoas especiais. A imagem é linda, mas Machado de Assis, sem sair do Rio, sem viver vida tumultuada e agitos, escreveu para além da sua vida. Tudo de melhor que Vinícius e Cabral escreveram foi quando estavam "confortáveis". Mas a imagem é bela, da ostra ferida fazendo pérolas.
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